Cientistas advertem que um tônico de ervas desenvolvido em Madagascar, tido como cura para a COVID-19, pode comprometer o tratamento da malária. Embora a terapia chamada “Covid Organics”, desenvolvida pelo Instituto Malgache de Pesquisas Aplicadas (IMRA), não tenha eficácia cientificamente comprovada, presidentes de países africanos, como o da Tanzânia, afirmam desejar fazer encomendas para seu preparo. O principal ingrediente descrito é uma planta, oriunda da Ásia (Artemisia annua), que deu origem à droga antimalárica artemisinina. Esta substância é utilizada no tratamento da malária em associação com pelo menos um segundo medicamento antimalárico, com o intuito de impedir o surgimento de resistência. A Organização Mundial de Saúde (OMS) desencoraja o uso da artemisinina como monoterapia; além de recentemente ter reprovado o uso da A. annua para tratar ou prevenir a malária. Da mesma maneira, utilizar um composto à base da planta como tratamento para a COVID-19 pode colocar em risco o tratamento da malária em regiões endêmicas.
Há a hipótese de que a artemisinina pode ter efeito contra o SARS-CoV-2, pois testes anteriores demonstraram uma atividade neutralizante in vitro de um extrato alcoólico da A. annua contra o vírus SARS-CoV-1, considerado um “primo” do novo coronavírus. No entanto, mesmo que se comprove a ação antiviral da artemisinina ou do extrato da planta, cientistas afirmam que ainda haverá o dilema a respeito da sua utilização no tratamento da COVID-19 em determinadas regiões sem sacrificar o tratamento antimalárico no futuro.
Fonte:
doi:10.1126/science.abc6665