Nos últimos 30 anos tem ocorrido um rápido aumento no surgimento de bactérias multirresistentes e uma redução na descoberta e produção de novas drogas com ação antibacteriana. Isso tem levado cientistas a considerarem o uso de bacteriófagos (BPs) como tratamento, sozinhos ou em concomitância com fármacos.
Bacteriófagos são vírus que infectam bactérias e, devido à sua alta especificidade com relação ao seu alvo, os BPs são focados no sítio da infecção, além de alcançarem tecidos que os antibióticos dificilmente penetram; não danificam as células de mamíferos e podem até ser modificados geneticamente de forma a reduzir a virulência bacteriana ou, até mesmo, inibir algum mecanismo de resistência a antibióticos.
A problemática dos antibióticos é que, como inibem crescimento de diferentes bactérias, influenciam na microbiota e prejudicam as bactérias benéficas, além de poder levar ao desenvolvimento de infecções secundárias. Nessa perspectiva, os fagos são ainda mais atraentes já que um único BP possui capacidade de infectar um número restrito de cepas bacterianas, a exemplo de experimentos que demonstraram eficácia contra E. coli diarreica sem afetar as bactérias não patogênicas da mesma espécie. Além disso, alguns estudos apresentaram resultados satisfatórios no tratamento de diferentes infecções causadas por P. aeruginosa, K. pneumoniae e S. aureus.
Embora os dados apontem que esse tipo de terapia venha a ser uma medida racional, ainda há problemas a serem superados: a falta de formulação e estabilização das preparações farmacêuticas para uso clínico, o possível desenvolvimento de resistência, a redução de sua atividade pela resposta imune gerada, dentre outras potenciais consequências indesejadas. A maioria dos ensaios feitos até hoje apresenta resultados conflitantes. Ainda são necessários estudos clínicos para que os problemas sejam explorados em suas diversas instâncias, antes de ser efetivada a terapia com BPs em humanos.
Fonte:
Principi, N.; Silvestri, E.; Esposito, S. Advantages and Limitations of Bacteriophages for the Treatment of Bacterial Infections. Front Farmacol. 2019;10:513.
doi: 10.3389/fphar.2019.00513